sábado, 24 de julho de 2010

O MEU PRÍNCIPE ENCANTADO !

Ah! como eram doces as tardes de Agosto da minha meninice.
Quando a morna sesta da tarde, tirava de mim os olhos, já meus passos iam longe, por entre as flores silvestres, nos carreiros de urze e ainda rosmanos, um pé à frente e outro atrás e o coração leve como um pássaro longe da gaiola.
Que me chamassem ou me saudassem, eu nem os ouviria !
Equilibrava-me nos pequenos muros , caminhando sobre eles como vagão sobre carris. Assim ficava mais fácil ao teu olhar, pensava.
Tu eras o meu norte. Caminhava para ti como quem é muito esperada e às vezes a sorte dava-me a mão. Mas outras, tantas, o sol abrasava o meu rosto até à compaixão e tu não vinhas...
Sentava-me então junto ao ribeiro e sonhava-te...poderia dizer-te, quantas borboletas brancas te anunciaram, quantos pintassilgos alegres ali vieram beber, quantas margaridas singelas desfolhei por ti... mas a tarde corria naquelas águas límpidas de antão e levava os meus quereres.
Desesperava-me, lá longe, o som do campanário por tu tardares, mas o desejo de te ver arrastava as horas até ao meu limite. Não raro, a brisa calma do entardecer chegava bem antes de ti e esmurecia o meu fulgor. A sesta durava até às Trindades e era tempo de eu voltar...
Dizias às vezes por graça:
" - Vai, antes que te transformes em abóbora!"
E os dois ríamos felizes, numa obediência inquestionável e gratuita.


maria


imagem: ( reprodução ) Psique entrando no jardim de Cupido-John W. Watherhouse


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