domingo, 6 de junho de 2010

JOANA




Sabes Joana,
A morte não é preta nem é branca. A morte é da cor da nossa alma. Pode ser azul ou rosa, como essa flor que apertas contra o peito e teimas em guardar!
Pode não ter cor, como essas lágrimas que te molham o colo e te turvam o olhar. Mas, pode também, ser a cor de todas as cores, aquela que ainda não vemos, mas que é luz de fim de túnel e morada de todos nós.
Quando eu era criança, havia lá em casa, uma foto a preto e branco, com uma urna muito pequena, toda branca, em posição inclinada para se ver o interior. Talvez desejassem passar rápido aquela folha do álbum, mas para mim, era paragem obrigatória e pergunta com resposta. O meu Pai costumava responder que era um anjinho que tinha ido para o céu. Aquela era a morte que eu conhecia: Branquinha, vestida de anjo subido ao céu. E assim foi, durante muitos anos; Não que ela sorrateiramente e de uma forma" cruel" não nos fosse visitando, mas porque a nós, crianças, nos protegiam do lado mais acutilante dessas brutais separações.
Mais tarde, penso que de uma forma perfeitamente natural, com a maternidade, apreendi o lado absurdo da dicotomia vida/morte e recreei em mim o arrepiante espectro da morte. Digo recreei, porque embora num formato inconsciente, ele esteve presente em toda a minha adolescência, com medos e sustos de guerra que não eram verdadeiramente meus.
A morte não era entendimento, era medo e tinha essa mesma cor.
Hoje , Joana, tal como tu, tenho medo. Continuo a ter medo, mas posso relativizá-lo, porque deixou de ser absurdo. Vejo a real dicotomia da vida, Nascer/Morrer e percebo que há um propósito neste percurso, que pode eventualmente ser muito curto, ou não, mas que será sempre cumprido. Cabe a cada um de nós a responsabilidade de o aceitar e cumprir o melhor possível. E é nesta clarividência que se esvai o medo e permanece a luz.


maria



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1 comentário:

  1. Obrigada! Por me teres convidado para este cantinho tao pessoal! Vocês têm o dom de escrever bem! Bem e bonito.... eu gostava de ter tempom para escrever, mas nao tenho....a vida actual e a crise actual não nos permite.

    So queria ter tempo mesmo.

    Beijinhos e obrigada por toda a força

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