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O sentimento do dever cumprido, a redução, ou a aparente redução das responsabilidades poderiam ser razões suficientes ,na satisfação pessoal ou conjugal, quando os nossos filhos se autonomizam e saem de casa.
Ao invés, e por muito equilibradas que nos julguemos, perdemos completamente o chão. Ficamos desesperadamente inadequadas ao espaço físico e psicológico que sobra.
A perda tem uma dimensão tão gigantesca, que nos transformamos na própria " Inutilidade". Isso mesmo. Parece que se perde toda a razão de viver. Onde fica o meu papel de Mãe? Que faço agora sem essa função? ou mais dramático ainda, quem sou eu se já não sou Mãe?
E o silêncio, a casa vazia, a solidão, a tristeza, cria este jogo aterrador nas nossas mentes. E involuntariamente, nós vamos jogando...
Numa primeira fase , até sabemos que a vida tem estas transformações, que apesar de os filhos estarem longe dos nossos carinhos diários, seremos sempre os pais deles, que devem seguir os sonhos deles, formar a sua identidade fora do núcleo paternal, blá blá blá, blá blá blá... nada que antes não parecesse previsível e até mesmo pacífico.
Mas o vazio adensa-se no nosso subconsciente, e o jogo torna-se perigoso: os quartos são arrumos de ninguém, as camas, são espaços sem dono, as luzes, apagam -se de ausências, os sons que não se ouvem, são tristes desamparos e até os gritos que repreendíamos chegam a ser contrições da nossa alma.
E quer queiramos, quer não, por onde quer que tentemos dispersar a nossa atenção, vagueia sempre, este espectro ambulante e perturbador, da melancolia, da solidão, a chamar por nós. E mais funesto ainda, nós a chamar por ele, porque a simbiose é perfeita. Há um gosto doentio pela saudade, que dá razão ao abandono.
Não se previu o retorno a dois.
Só duas cadeiras ocupadas, é mesa que desaprendeu.
O diálogo perdeu o propósito.
Agora, ficou mais difícil " Olhar juntos na mesma direcção", porque se distanciou o modelo que desenhou no tempo, as paralelas do nosso olhar.
E o funesto sentimento, arrasta-se impiedoso, num obstinado jogo de forças, que o tempo há-de saber parar...
maria
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